Era por volta de 11 e meia da manhã desta terça-feira, 13, o sol a pino no céu, quando seu Sebastião Pereira, 66 anos, colocou suas duas cestas básicas no carrinho de mão e levou para casa, um barraco pequeno na Comunidade Malhadinha, em Brejinho de Nazaré, onde mora com a esposa, Agna Raimunda dos Santos, que disse não lembrar mais a sua idade, “mas eu ainda sou nova”, frisou. A família que vive em Malhadinha foi uma das 87 contempladas pelo programa do Governo Federal para garantir segurança alimentar e nutricional às comunidades remanescentes de quilombos, por meio da Fundação Cultural Palmares que destinou 7.900 cestas básicas à 47 comunidades quilombolas no Tocantins, distribuídas em diversas etapas, com início de entrega nesta semana pela Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju).

Quando perguntado sobre como consegue o alimento diário da família composta por ele e a esposa, Sebastião, hoje desempregado e buscando aposentadoria, conta que vende vassouras de palha feitas ali mesmo no seu pedaço de terra. Na hora, Agna também complementa e a fala dos dois se mistura em uma só: “se não vende, não come. A gente tem que trabalhar pra poder comer e muitas vezes falta. Não temos muita condição, às vezes pedimos para alguém ir na cidade comprar, mas aí é esperar três ou quatro dias. Tem vezes que vamos a pé pra cidade [Porto Nacional], saímos cedinho e chegamos lá pela hora do almoço, porque moto táxi e ônibus é caro. Aí vamos parando nos pés de árvores, levando um pouco de água e um bocado de farinha, às vezes até dorme lá”, explica.

Ele fala também sobre o significado daquelas duas cestas básicas colocadas na cama, sem lençol, que ficam ao lado do fogão à lenha com feijão pegando pressão no fogo. “Era o nosso almoço, mas agora vai dar para complementar. Tendo essas cestas, já é menos uma preocupação, dá pra economizar mais, o que ganhar podemos arrumar outras coisas e conseguimos comer sem tanta dificuldade até pra ir atrás de comida”, destaca o quilombola.

Outra família que mora na comunidade Malhadinha e foi contemplada com as cestas é a da Eleni Ribeiro de Sousa, 37 anos. Ela conta que mora na comunidade desde que nasceu e saiu somente para estudar. Hoje é formada em Química pela Universidade Federal do Tocantins e faz complementação em Pedagogia, mas ainda em busca de emprego, Elani afirma que as cestas chegaram em um momento muito necessário devido ao seu desemprego. “Meu marido trabalha, mas é um salário mínimo e mal dá pra comprar o alimento básico do mês pra três filhos e um sobrinho que mora com a gente. É uma maravilha estar recebendo esse benefício porque nessa Pandemia estamos com dificuldade, então esse ganho já complementa a alimentação e diminui os gastos”, considera.

Distribuição

Ambas as famílias têm o direito às cestas básicas da Fundação Palmares por serem quilombolas, sendo esta uma medida de caráter emergencial e complementar para atender famílias que se encontram em situação de insegurança alimentar e nutricional.  A Fundação Cultural Palmares é o órgão responsável por garantir a chegada das cestas às famílias quilombolas, articulando a retirada das mesmas dos armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), organizando a logística de distribuição e prestando contas ao Ministério da Cidadania.

Eles receberam as cestas após preenchimento de formulário, com apoio da Associação dos mini e pequenos produtores da Malhadinha, sendo distribuídas duas cestas básicas por família. “Hoje na comunidade, que é reconhecida pela Fundação Palmares como quilombola, vivem 87 famílias, sendo que na maioria das casas tem cinco ou seis pessoas, então a distribuição dessas cestas tem um grande impacto para nós. Com a Pandemia houve uma necessidade enorme de alimento, muitos perderam o emprego e não tiveram como conseguir outra oportunidade, então sempre que vem um benefício é um impacto muito grande, até porque sabemos o custo de cada cesta, e uma gratidão de todos que recebem”, explica a presidente da Associação, Marlene Araújo Dias.

Rota

Ao todo, o Tocantins tem 47 comunidades quilombolas e todas receberão cestas básicas proporcionais ao número de famílias com distribuição divididas por etapas, conforme cronograma organizado pela Seciju, sendo parceira da Fundação Cultural Palmares como agente interlocutor. As entregas iniciaram esta semana pela Diretoria de Direitos Humanos, por meio das suas gerências de Diversidade e Inclusão Social e Gerência e Proteção e Políticas para as Mulheres, e a previsão de encerramento é para outubro, fazendo rotas em todas as comunidades quilombolas do Tocantins, de norte a sul do Estado.

“A entrega das cestas, que vieram adquiridas pela Fundação Cultural Palmares, é de grande importância para nós da Diretoria porque estamos indo a cada comunidade quilombola, onde aproveitamos também sensibilizar esses povos remanescentes de quilombos a importância de atender este público vulnerável e conscientizar pela preservação da sua cultura, da identidade, da história de cada comunidade quilombola que vem se rompendo ao longo do tempo, então a Diretoria está não só viabilizando a entrega das cestas, mas também levando essa sensibilização sobre a necessidade de manter a cultura dos povos tradicionais quilombolas”, explica a diretora de Direitos Humanos da Seciju, Sabrina Ribeiro.

Participante da ação pela Gerência de Políticas e Proteção às Mulheres, a qual atua também pelos direitos da mulher quilombola, a gerente Flávia Laís Munhoz conta que esta “é uma ação que vem para ajudar essas mulheres de comunidades quilombolas que vivem da agricultura familiar, do próprio cultivo. Muitas não têm outras rendas, principalmente neste período de Pandemia, quando os índices de desemprego aumentaram, então a distribuição das cestas colabora com o sustento familiar”.

A rota de entregas pela diretora de Direitos Humanos, gerente de Políticas e Proteção às Mulheres e gerência de Diversidade e Inclusão Social, nesta ação representado pelo assessor Yuri Mendes, seguirá nesta semana, de 12 a 17, passando por todas as comunidades quilombolas nos municípios Brejinho de Nazaré, Porto Nacional, Chapada de Natividade, Natividade e Santa Rosa. Já na próxima semana, a equipe da Diretoria passará pelos municípios da região central do Tocantins e na última semana do mês seguirá pela região do Jalapão.

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