livro no lixo
livro no lixo
livro no lixo

Numa época em que o nível do investimento em educação no Brasil é tão questionado pela sociedade, uma cena estarrecedora assustou o marabaense nos últimos dois dias: centenas de livros escolares novinhos, descartados em um terreno baldio no Bairro Novo Horizonte em Marabá-PA.

A denúncia foi feita por moradores da Rua Amazonas, onde num lote de esquina, os livros foram jogados, como lixo no último dia 20. Ontem, quando a Reportagem esteve no local, várias pessoas pegavam para si os exemplares de Português, Ciências, Geografia e História, de 6º a 9º ano. A origem ainda é um mistério.

Eram mais de 300 livros, todos visivelmente novos e alguns ainda dentro das caixas, que estavam parcialmente rasgadas. Também no meio vários manuais do professor. Os exemplares são da editora Leya e, obviamente, com conteúdo atualizado e que poderiam muito bem servir a turmas inteiras em várias escolas públicas, com longa vida útil.

Nenhum dos moradores da vizinhança declarou ter visto quando os livros foram descartados ali, mesmo estando claro que o volume só poderia ser transportado em carro aberto ou caminhão, mas desconfia-se que o procedimento foi realizado na madrugada.

Revolta

A reportagem foi acionada pelo pecuarista Múcio Gonçalves Ferreira, 58 anos, morador das proximidades e que se disse revoltado por um material tão vasto ter sido jogado fora como lixo. “Achei um descaso com a educação, muita gente está precisando de livros e não tem condição de obtê-los. Infelizmente a educação anda muito prejudicada porque o governo não está dando valor. Uma denúncia dessas serve para incentivar cada vez mais o brasileiro a reclamar, pois o professor é muito injustiçado, muito prejudicado”.

Josué da Silva, um popular que passava pela rua, pegou alguns dos livros para seus filhos que estão em idade escolar. Sobre os livros jogados fora ele opinou: “É um crime o que fizeram. Tanta criança precisando e essa carga toda jogada fora. Se não queriam podiam doar pra uma comunidade do interior”.

Carina Teixeira, estudante do 1º ano do Acy Barros, ao ver a cena também se indignou. “Esses livros aqui tinham de estar na mão de crianças carentes e que não têm condição de comprar”, disse. Laércio Reis Bairros, pinto e morador das cercanias, também disse que o caso merece investigação. “São livros novos e que, com certeza, custam caro. É uma grande injustiça”, disse ele.

Origem

Além da logomarca nos exemplares, da Editora Leya, as caixas que embalavam os livros didáticos dão algumas pistas sobre sua origem. Algumas têm adesivada a identificação da Marajoara Comércio de Livros, uma distribuidora que funciona na Avenida Almirante Tamandaré, em Belém. O telefone que consta na internet como sendo da empresa, com final 0656, só dava ocupada ate fechamento desta matéria. Na editora Leya, por telefone, a Reportagem só conseguiu falar com Fernanda de Almeida, do setor comercial, a qual demonstrou bastante preocupação com o fato e solicitou ao repórter mais informações, assim como uma foto dos livros na forma em que foram encontrados.

Ela pediu alguns minutos e telefonou ao distribuidor em Belém, no caso a Marajoara Comércio de Livros. No retorno, ela disse já ter ideia do que possa ter acontecido, mas que dependia de alguns outros telefonemas, até dar resposta definitiva. mas o retorno não foi feito pela editora.

Em Marabá, a 4ªURE (Seduc) a qual confirmou que opera com livros do ensino básico para algumas escolas de Itupiranga e de aldeias indígenas, mas que os mesmos vão diretamente para os educandários e em pequeno volume. A URE também não foi informada por qualquer de suas unidades sobre extravio de material.

Já na rede municipal, o primeiro contato foi por telefone com o secretário de Educação, Luiz Bressan, o qual avisou que estava em Brasília (DF), mas tomou nota da denúncia se comprometendo a investigar o caso. Pela tarde a reportagem já não conseguiu mais falar com Bressan ou alguém da Semed.

Na resposta a Ascom relatou que o almoxarifado da Semed não tem registros de extravio de material didático e nem pedido de autorização para reciclagem. Segundo a secretaria, mesmo o descarte de material desse tipo nunca se daria desta forma. Segundo o município, ainda na ontem quarta-feira 22, uma equipe foi enviada ao local onde os livros foram despejados, para iniciar um rastreamento dos mesmos, verificando lote e empresas envolvidas.

A reportagem também verificou com a Delegacia de Polícia Civil sobre registro de roubo de carga de livros, mas não havia ocorrência nesse sentido. (Patrick Roberto/CT)

 

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