A ministra da Agricultura, Kátia Abreu , em entrevista no ministério da agricultura
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu , em entrevista no ministério da agricultura
A ministra Kátia Abreu , em entrevista no ministério da agricultura

Um dos raros quadros do PMDB que permanece fiel à presidente da República, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, 53, defende o mandato de Dilma Rousseff dizendo que impeachment deve ser feito com “substância”, não com “adjetivação”.

“Só vejo adjetivação, porque a presidente não gosta do Congresso, porque é impopular, porque briga, etc.”, declara a peemedebista, porta­voz do agronegócio no governo federal. “Ninguém nunca ouviu dizer que ela tenha furtado uma caneta BIC.”

Em entrevista à Folha, a ministra afirma que a deposição não resolveria os problemas da economia. “E, no dia seguinte, viria a frustração, porque nada seria modificado com rapidez, sem dor, como num passe de mágica. Não tem Hollywood nem país das maravilhas.”

Contra o rótulo de novata imposto por alguns de seus correligionários, a titular da Agricultura dispara. “Não sou oferecida”, mas também “não quero ser tratada a vida inteira como cristão­ novo”.

Kátia Abreu defende Michel Temer. Garante que ele não conspira para derrubar Dilma. “A suspeição disso o deixou muito abatido.” Mas reconhece que amigos do vice-presidente andaram, sim, fazendo complôs aqui e ali.

Para ela, basear o impeachment em popularidade é um risco político. “Se fizermos uma pesquisa com os governadores e prefeitos, devido à dificuldade financeira que se encontram, talvez não sobrasse nenhum.” Em uma recente viagem, a ministra pediu à chefe recomendações de livros para ampliar sua cultura. Ao receber a lista bibliográfica, soltou uma frase que fez Dilma cair na risada. “Se eu ler tudo isso não vou virar comunista, né?” E logo emendou: “Sou de direita desde que nasci”.

Folha: ­ Seu nome foi cotado para a Casa Civil. Foi convidada?

Kátia Abreu:­ Não sei de onde isso surgiu nem para onde foi. A presidente nunca tocou nesse assunto comigo.

O PMDB se apressou em dizer que a sra. não seria indicação do partido.

Não sou uma intrusa, tampouco oferecida. Eu fui para o PMDB com um convite especial de pessoas que eu gosto muito no partido, começando pelo presidente Michel Temer, Renan Calheiros, Valdir Raupp, Romero Jucá. E disse que não queria ser tratada a vida inteira como cristã­nova. O PMDB às vezes têm pessoas filiadas há dez anos e continuam com esse carimbo. Sei que quem chega por último não senta na janela. Não quero passar por cima das lideranças já consolidadas do meu partido, mas também não sou uma mulher amordaçada ou encabrestada. Não preciso de autorização de ninguém para fazer política.

Quem a critica?

Não sei. Isso para mim é como se fosse política feita no metrô, subterrânea. Eu só sei fazer política à luz do sol, na superfície. Essas pessoas que fazem isso são infelizes, invejosas, que estão em posições inferiorizadas. De certa forma, me envaidece. Ninguém joga pedra em fruta podre. Se estão jogando pedra em mim é porque a fruta está bonita, não tem mosca.

Boa parte do seu partido defende o impeachment…

O impeachment, em primeiro lugar, é um instrumento que está na Constituição. O que está sendo atropelado são os seus procedimentos. Impeachment não pode ser com adjetivação, tem que ter substância. Só vejo adjetivação, porque a presidente não gosta do Congresso, porque é impopular, porque briga, etc. A presidente pode ter muitos defeitos, todos temos, mas ninguém nunca ouviu dizer que ela tenha furtado uma caneta BIC. É isso o que me aproxima dela, a sua honestidade.

Dá para assegurar que o impeachment não logrará?

Tenho confiança no país e no meu partido. O partido das Diretas, da redemocratização, que o país todo reconhece. Tenho certeza que o PMDB não praticaria um ato de impeachment com adjetivos. Se tivesse substantivos, sim. Pode ter havido contrariedades, dissabores, erros que podem ter sido cometidos pelo governo, mas acho que isso tudo está sendo restabelecido. Não fizeram no auge da crise, quando tinha todo aquele mau humor. Não fizeram porque eles sabiam que ela não merecia isso, que não era justo com quem não praticou nenhum ato ilícito.

Como enfrentar a crise com popularidade tão baixa?

Não podemos basear impeachment em popularidade. Se fizermos uma pesquisa com os governadores e prefeitos, devido à dificuldade financeira que se encontram, talvez não sobrasse nenhum.

O vice­presidente conspira pela queda?

Eu conheço o Michel o triplo de tempo que eu conheço ela. Ele jamais seria capaz de uma infâmia, de manchar o seu nome. A suspeição disso o deixou muito abatido. Também não quero negar e fazer vista grossa para alguns que se dizem amigos [do vice] que sonhavam com isso. Alguns que estão sem espaço, que têm seus interesses feridos, de certa forma fizeram uma torcida, barulho na imprensa, e isso fez com que alguns pudessem imaginar que o Michel tivesse apoiado. Tenho convicção de que não é verdade.

Fala dos ex­ministros Moreira Franco e Geddel Vieira Lima?

Não gostaria de citar nomes para não ser injusta com ninguém. Mas existiu um sentimento de alguns que gostariam de ver o Michel na Presidência, mas muito mais interessados no próprio umbigo deles. Com um impeachment, nada seria mudado num passe de mágica e sem dor. Um país com US$ 380 bilhões de reservas internacionais não quebra. Nós temos toda a condição e saúde econômica para superar a crise. Não tem mágica. Um impeachment seria traumático para o país, para o emprego e para as empresas. E, no dia seguinte, viria a frustração, porque nada seria modificado com rapidez, sem dor, como num passe de mágica. Não tem Hollywood nem país das maravilhas. Não estou negando as dificuldades. Mas tudo o que fizermos agora, temos de olhar para um único caminho: diminuir os níveis de desemprego. Nada é mais importante que isso.

Como é sua relação com a presidente?

A maior surpresa que tive foi com o nível intelectual dela, porque ela não aparenta, ela não exibe isso. Brinquei com ela que estava começando a achar muito chique ser intelectual e pedi indicações de livros. Eu não tive tempo [na juventude]. Tinha de ler muito sobre agropecuária. Quando meu marido morreu, eu tinha 25 anos de idade, me deixou uma fazenda. Eu não sabia a diferença entre um boi e uma vaca. Tinha de optar. Ou seria culta ou me enterraria nesse assunto [agronegócio] para ser boa.

Que livro ela recomendou?

Brinquei com ela. Ela deu uma lista. Perguntei: se eu ler esse tanto de livro aqui eu não vou virar comunista, né [risos]? Disseram que não tinha perigo. Estou lendo Casa­Grande & Senzala [de Gilberto Freyre]. A presidente Dilma sempre pergunta. Você é de direita? Eu respondo: sou de direita desde que nasci. Meu sonho era ser psicanalista. Quando o pai dos meus filhos faleceu [o avião que ele pilotava caiu próximo à propriedade da família], estava grávida do terceiro e no último ano de faculdade. Tive de aprender tudo, até a dirigir trator. Não tinha gerente na fazenda. Aprendi. Depois me elegi presidente do sindicato, até ser chamada a me filiar no PFL.

A presidente está emocionalmente bem?

É admirável o controle dela. Não significa que está alegre. Continua valente, brigona, aquele jeito dela, mas você não percebe que ela esteja um tom a mais nervosa por causa da crise.

Pretende se candidatar à Presidência em 2018?

Olha, já estive pensando muito nesse processo para 2018. É a mesma coisa de você estar voando de avião, sem radar, e o tempo estar nublado, sem visibilidade. Acho 2018 muito distante. Mesmo porque, a minha vida, sempre foi feita muito no curto prazo. Nunca projetei o Ministério da Agricultura quando fiquei viúva. Naquele tempo minha vontade era sair no “Globo Rural”, era meu sonho. Entrei no sindicato, fui para política. Agora, Presidência da República, sinceramente, não está na minha meta.

 

 

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